Morte de pastor em Aracaju expõe tensões em igrejas evangélicas

O pastor evangélico Edilson Bezerra Câmara, 66 anos, morreu na madrugada de quinta-feira (4) após seu carro cair em um canal no bairro Santa Lúcia, em Aracaju. O acidente ocorreu por volta das 2h30, quando o religioso retornava de uma reunião ministerial.

O corpo foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros e encaminhado ao Instituto Médico Legal. O velório aconteceu na Igreja Assembleia de Deus onde pastoreava, com sepultamento no Cemitério Parque da Colina.

Contexto de outras mortes

A morte do pastor Edilson é a terceira de um líder religioso em circunstâncias não totalmente esclarecidas em uma semana. Em 3 de dezembro, um pregador de 27 anos foi assassinado com mais de 15 tiros em Feira de Santana, na Bahia.

No domingo (7/12), faleceu o pastor Valdeci Luiz da Silva, 61 anos, presidente da Assembleia de Deus dos Mistérios em Mogi das Cruzes. Em outubro, outro pastor, Eduardo Oliveira dos Santos, 45 anos, foi morto a tiros durante operação policial no Complexo do Chapadão, no Rio.

Investigações e questionamentos

A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as circunstâncias do óbito de Edilson, mas descartou inicialmente a hipótese de crime. Há indícios de que o acidente possa estar relacionado a tensões internas na denominação por disputas por recursos e influência.

Fontes do meio evangélico revelaram que o pastor estava envolvido em negociações imobiliárias controversas relacionadas a terrenos de igrejas, em operação que envolvia R$ 2,3 milhões. A Polícia Federal monitorava movimentações financeiras atípicas de líderes religiosos da região, mas não confirmou se Edilson era alvo específico.

O laudo toxicológico ainda não foi liberado pela perícia, e não há informações sobre possíveis problemas de saúde ou substâncias no organismo do religioso.

Repercussão e análises

A sequência de mortes gerou comoção e especulação nas comunidades evangélicas. Hashtags como #JustiçaParaNossoPastor e #IgrejaSobAtaque viralizaram nas redes sociais.

O sociólogo Francisco Lima, da Universidade Federal de Sergipe, analisa:

Estamos vendo um momento de grande tensão no campo evangélico brasileiro. As igrejas cresceram enormemente em poder político e econômico na última década, e isso naturalmente gera conflitos internos e externos

O caso expõe a fragilidade dos sistemas de segurança para líderes religiosos, que muitas vezes não contam com proteção adequada mesmo ao se envolverem em atividades de risco ou negócios milionários.

As investigações continuam, com a Polícia Civil coletando imagens de câmeras de segurança da região do canal. Familiares do pastor declinaram de entrevistas e mantêm silêncio desde o ocorrido.